A notícia chegou às 08.00 da manhã, entre uma torrada do pequeno-almoço, e pela voz de um Manuel descontraído. "Hoje não há escola", disse em tom desembaraçado, sem medir o impacto do que acabara de proferir. Ana e Joaquim Silva, uma típica família da classe média, já estavam de saída para o trabalho quando o comentário do filho lhes alterou drasticamente a rotina. A escola fechada. Para cuidar de Manuel e Maria, os filhos de cinco e dois anos, tinham de arranjar alternativa rapidamente. Ou uma avó ou outra.
O pai, Joaquim Silva, confirmou pelo telefone que o Centro Alfredo Pinheiro tinha as portas encerradas. A adesão do pessoal à greve geral assim o ditou. Às 09.00 da manhã não se via nem ouvia uma criança. Era apenas um das muitas escolas do concelho, visitadas pelo DN, que não abriram. No País, o cenário repetiu-se em milhares de estabelecimentos de ensino, garantem os sindicatos, que reclamam a maior greve de sempre sem ser em protestos sectoriais, com uma adesão de 75%, que obrigou a fechar 2500 escolas.
Como a escola pertence à Misericórdia, Ana confessa que nem equacionou que não abrisse. Foi distracção, reconhece, pois o protesto é global. "Só quando o Manuel disse que a professora já tinha avisado é que me lembrei. Senão tinha batido com o nariz na porta", afirma a mãe. Ana Silva gere uma farmácia em Cascais e só tinha de entrar à uma. "Quando percebi que havia greve, até liguei para a farmácia a saber se era preciso ir a correr abrir a porta", conta, entre risos. Depois, foi a correria habitual. O marido, médico a fazer o doutoramento, teve a primeira aula só às 10.00. Por isso foi a tempo de deixar os filhos em casa da mãe.
Manuel reproduz as palavras adultas que servem de explicação para este dia diferente. "Há uma reunião importante na escola e não podemos lá ficar a fazer barulho", explica, com ar de gente crescida, sentado no sofá da avó Geninha, sem despegar os olhos do canal Panda. A alteração da rotina passa ao lado destes dois irmãos, que trocam mimos e brincadeiras. Afinal, é na casa da avó que já passam algumas tardes da semana dividida com a outra avó. "Hoje vai ser o dia todo", explica Eugénia Silva, que até agradece por a greve lhe ter trazido os netos. Está de chuva, e o dia não convida a sair. As crianças fazem desenhos, conversam e riem. Vai ser assim até à noite.
Menos atento do que Ana Silva, António Ramalho esqueceu- -se de telefonar para o Hospital de S. José a perguntar se a sua consulta de otorrino se mantinha. Resultado: ao contrário da farmacêutica de Cascais, o reformado de 68 anos bateu com o nariz na porta. "Estou à espera da consulta de otorrino há mais de um ano e recebi a carta do hospital há mais de um mês. Agora vou para casa sem saber quando volto a ter marcação", lamentou. "Não liguei para cá porque achei que os médicos não faziam greve. Concordo com a greve, mas não tanto, porque a vida não está para isso", atirou, enquanto saía acompanhado pela mulher.
Portas fechadas, ambulâncias que não passam, ninguém na rua. Era este o cenário à porta das consultas externas do Hospital de S. José, em Lisboa, onde a adesão à greve geral por parte dos administrativos, auxiliares e enfermeiros foi de cerca de 90%. Apenas um papel colado no vidro à entrada do pavilhão e uma funcionária a dar informações: "Hoje [ontem] não há consultas por causa da greve. Está tudo fechado." O cenário de ontem nada tinha a ver com o de terça-feira. Na véspera da greve geral, pouco depois das 08.30, hora a que abrem as portas do bloco das consultas, já a sala de espera estava cheia de doentes para fazerem inscrição, análises ou serem vistos pelo médico. A média diária ronda as 500 consultas.
Mas, em pleno dia de greve geral, foram poucos os que arriscaram sair de casa. Até às 09.15 só cerca de 30 doentes passaram pelo bloco das consultas para saber se teriam alguma sorte. Não tiveram. A porta estava fechada, e, não fosse uma funcionária à entrada, não se veria ninguém. Nem as ambulâncias que estão sempre a chegar com doentes para as consultas apareceram.
"Tínhamos 400 agendadas, e passaram a ser cerca de 200", disse Sandra Marques, administrativa daquele serviço e um dos elementos do piquete de greve. Só em Lisboa, Algarve e Alentejo foram adiadas mais de cinco mil consultas. Em S. José, ontem estavam apenas garantidos os serviços mínimos nas urgências, tratamentos de oncologia, diálise e cuidados intensivos. "Do que sabemos, não se realizou nenhuma cirurgia programada", referiu Ana Amaral, do piquete de greve, durante a manhã. Mesmo na sala de espera das urgências eram poucas as pessoas que esperavam para ser atendidas. "Muitos doentes ligaram a desmarcar." António Ramalho foi um dos que não ligaram.
Sem transporte "há que esperar"
Outro hospital, o mesmo cenário. No Egas Moniz, também em Lisboa, muitos doentes ficaram sem consulta por falta de médicos. Viagens em vão, ainda mais dificultadas pela paragem quase total dos transportes públicos. "Saímos de Cascais às 10.00 para duas consultas no Egas Moniz, mas um dos médicos estava no estrangeiro e o outro fez greve, e agora estamos aqui há já duas horas à espera e vamos ficar ainda mais outras duas", desabafava Maria Mendes, 74 anos, na estação do Cais do Sodré. Sentada num banco ao lado do marido, Maria Mendes não manifestava revolta: "Sou funcionária pública aposentada, e até percebo as razões da greve, agora é esperar."
Sete comboios parados, um invulgar silêncio e um cordão de seguranças a impedir o acesso às plataformas. Este o exótico retrato da estação, pelas 13.00, onde o único sinal de agitação era dado pelas câmaras de TV de estações portuguesas e da TVE. "O último comboio que partiu daqui foi às 09.00", disse ao DN um dos elementos de segurança da CP. Os próximos comboios só partiriam às 16.20 e às 17.10. Para todo o dia, só estavam previstos 15 percursos na Linha de Cascais. Em todo o País, foram suprimidos 1034 comboios da CP, 31 de serviços mínimos, a que se juntaram em Lisboa 562 ligações de barcos da Soflusa e da Transtejo que não foram feitas.
Jacinta Paulo, com uma bebé adormecida ao colo, já mostrava no rosto os sinais de mais de duas horas de espera. "Apanhei o comboio das 07.30 em Paço de Arcos para ir ao SEF tratar de assuntos, dei-me ao trabalho de ligar na véspera para saber se estavam abertos, e hoje dei com as portas fechadas", contou aquela angolana, que não sabia como regressar a casa com a bebé.
Bem mais despreocupada, Sofia Marques, 16 anos, entra a correr na gare, fica estupefacta e volta a sair apressada. Por causa da greve, Sofia não teve aulas na Escola Rainha D. Leonor e tinha marcado uma outra às 15.00 em Cascais com o seu professor de surf. As estações de metro, essas, nem abriram.
Os tribunais também não fugiram à regra seguida por escolas, serviços hospitalares ou estações de transportes, e nem chegaram a "abrir portas". A principal razão foi a adesão de 87% dos procuradores, segundo números do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP).
Apesar de os juízes não terem aderido à paralisação nacional, certo é que a presença dos magistrados do MP é obrigatória na quase totalidade dos actos praticados. Por isso, não surpreende que, no Campus da Justiça em Lisboa, 13 julgamentos tenham sido adiados.
Ontem, em declarações aos jornalistas, o presidente do SMMP, o procurador João Palma, garantia uma adesão à greve de 87%, acrescentando que, face à greve dos procuradores e dos funcionários judiciais, muitos tribunais acabaram por encerrar portas. "Os que não estão fechados estão apenas a assegurar os serviços mínimos", declarou o presidente do SMMP.
Na Comarca da Grande Lisboa Noroeste, dos 66 magistrados, 63 aderiram à greve, sendo que na Comarca do Alentejo Litoral a adesão foi de 100%, segundo o sindicato.
O presidente do SMMP avançou ainda que na Comarca do Baixo Vouga dos 58 magistrados 48 estiveram ontem paralisados. Já no Tribunal de Contas também se registou uma adesão de 100% do MP, enquanto no Tribunal Constitucional dos quatro magistrados três fizeram greve. No caso do Tribunal da Relação do Porto, 10 dos 13 magistrados aderiram ao protesto, enquanto no Arquipélago da Madeira dos 22, 18 fizeram greve.
Quem não pode parar são os polícias, que tinham prometido uma espécie de "greve de zelo" com uma acção mais "preventiva e pedagógica" para com os infractores de trânsito. Esta acção de protesto dos polícias contra a política do Governo começou no passado dia 19 e prolongou-se até ontem, dia 24.
Segundo o presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia da PSP, Paulo Rodrigues, "houve uma diminuição de mais de 50% de multas passadas pelos agentes das divisões de trânsito de Lisboa e Porto, as maiores do País". Esta percentagem contabiliza apenas os autos de contra- -ordenação levantados entre os dias 19 e 23, pois os de dia 24 ainda não estavam ontem totalmente registados.
Este ano foram passadas 2553 multas, enquanto nos mesmos dias de 2009 esse número foi 4415. Em média foram passadas menos 500 multas por dia. Paulo Rodrigues assegura que estes valores são "oficiais e constam do relatório da PSP". Por outro lado, o Sindicato Nacional de Polícia, também da PSP, autor do contestado pré-aviso de greve, diz que 500 dos seus sindicalistas não trabalharam neste período "por actividade sindical".
A direcção nacional da PSP não comenta estas "baixas", mas contesta os números de multas, alegando que "estes períodos homólogos não são comparáveis, pois as diferenças terão de ser necessariamente notórias face à dimensão de recursos humanos e materiais, concretamente as valências na área do trânsito, que estiveram empenhados desde o dia 15 até ao início do dia 21 de Novembro em Lisboa", por causa da cimeira da NATO.
A adesão à greve nas forças e serviços de segurança que podem fazê--la foi elevada. Na ASAE, 70% dos inspectores e 100% dos funcionários de apoio à inspecção; na Guarda Prisional 93%, e em 15 prisões de Lisboa, Porto e Coimbra, 100%. No lado oposto, os inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras: apenas 10% fizeram greve.
O dia ideal para ir à Loja do Cidadão
Carta de condução, Segurança Social e cartão do cidadão, tudo tratado em uma hora. Uma situação inédita na Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa. E, claro, Rui Fernandes, 72 anos, não podia estar mais contente. Atravessou o rio Tejo, acompanhado da mulher e do filho, já passava das 10.00, e despachou-se a tempo de ir almoçar a casa. O dia de greve revelou--se o ideal para tratar da papelada.
O responsável pela Unidade de Gestão em causa confirma: "O dia com menos utentes de sempre!" Basta olhar para o balcão da Segurança Social, que atende uma média de 500 pessoas por dia e que chegam a esperar três horas, para ver a diferença: às 13.00 de ontem, hora habitualmente de ponta, estavam cinco funcionários e três utentes. O panorama é idêntico nos restantes balcões, os serviço a funcionar, nem todos a 100%, e as cadeiras dos utentes praticamente vazias.
Menos sorte apenas teve quem pretendia dirigir-se às unidades da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, da Caixa Geral das Aposentações, do Ministério da Saúde e do Balcão Perdi a Carteira. Isto durante a manhã, e quando a percentagem de adesão à greve era de 33%. No turno da tarde, fechou, também, o serviço do cartão do cidadão.
Vítor Pinto, 62 anos, reformado, vive no Norte mas tem casa na capital. "Vim a Lisboa para tratar de assuntos. E experimentei vir à Loja do Cidadão para ver se funcionava. Está óptima. Precisava de mudar o registo de propriedade de um automóvel e demorei sete minutos, quando costumo esperar uma hora. Isto está tão vazio que, agora, vou a casa buscar as leituras da água e electricidade", exclama.
As lojas do cidadão registaram números médios de adesão à greve, segundo a monitorização feita no Ministério das Finanças e Administração Pública. É neste ministério que se verifica a segunda maior paralisação na Administração Central, 42,84% dos trabalhadores em greve, com 137 serviços encerrados (36,05%).O Ministério da Justiça ocupa o primeiro lugar, com 48,99% dos funcionários a aderir à acção de protesto e 25,76% dos serviços fechados. O Ministério da Defesa é quem contabiliza menos grevistas, 6,11% do pessoal.
O secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo Castilho, explica que os dados foram introduzidos directamente pelos chefes de serviço, através de uma chave de acesso ao sistema, sendo estes actualizados automaticamente ao longo do dia. E quanto às diferenças dos números: menos de metade do anunciado pelas contas dos sindicatos, sublinha: "Com esta demonstração, fica claro como é que surgem os números, a justificação para a disparidade deve ser dada pelos sindicatos." Mas acaba por argumentar que pode haver elementos de ordem técnica. "Num serviço que fecha as portas, as estruturas sindicais contabilizam todos os trabalhadores, grevistas ou não, ou podem estar a contar pessoas que estão de férias ou de licença", justifica.
Na Administração Central contabilizaram 424 973 potenciais grevistas e 28,56% fizeram greve, o que levou ao encerramento de 3090 serviços (29,28%). Gonçalo Castilho não soube dizer a totalidade dos funcionários.
Já a nível da Administração Local o panorama foi bem diferente. Se fosse elaborado um ranking dos municípios com maior adesão à greve geral de ontem, dificilmente Vendas Novas, distrito de Évora, deixaria escapar o primeiro lugar: câmara e junta de freguesia estiveram encerradas, com adesão de 100% dos trabalhadores. O lixo ficou por recolher. O agrupamento de escolas não chegou a abrir. No centro de saúde, apenas houve consultas de urgência. A conservatória fechou. E até numa instituição particular de solidariedade social, encarregada de servir refeições às escolas, 90% dos funcionários aderiram à paralisação.
"Se os deixassem, até os militares tinham feito greve. E têm razão para isso, pois também lhes vão aos ordenados", diz João Vieira à entrada de um parque de estacionamento junto à estrada nacional que atravessa à cidade. À direita, uma faixa da CGTP lembra que a câmara está encerrada. À esquerda, na Escola Prática de Artilharia, é como se nada se passasse.
Pelas 05.00 da manhã já José Leitão andava pelo parque industrial a conferir os níveis de adesão à greve na Karmann Ghia (indústria automóvel), uma das maiores empregadoras do concelho. No sector privado houve menos gente em greve . E o sindicalista explica porquê: "As pessoas têm medo de perder o emprego, há muita precariedade, e até houve quem oferecesse 25 euros aos trabalhadores, a pagar em Dezembro, para que estes não fizessem greve."
O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) indica uma adesão de 90%, contabilização que Associação de Municípios Portugueses não faz. Mas, "pela primeira vez, sectores que não costumavam aderir fizeram greve", disse Fernando Ruas, presidente da estrutura. E confirma "a percepção de que a greve atingiu todos os municípios com maior intensidade em relação a greves anteriores". A câmara a que preside, Viseu, regista uma paralisação de 17% e o encerramento dos serviços municipalizados e da fiscalização.
José Marques, do STAL, salienta que encerraram os serviços de atendimento das câmaras de "Barreiro, Seixal, Avis, Arronches, Alcochete, Alcácer do Sal, Nisa, Marvão, Coimbra, Montijo, Moita, Almada, Coimbra, Loures, Gavião, Grândola, Matosinhos, Alter do Chão, Almada, Loulé, Crato, Palmela, Santiago do Cacém, Matosinhos, Castelo Branco, Évora, Famalicão e Vila Franca de Xira.
No plano da cultura, a greve geral fez com que vários museus fossem encerrados. No Museu dos Coches, um aviso na porta informava que se encontrava fechado devido à greve. Já no Museu Berardo não houve registos de trabalhadores em protesto e tudo decorreu normalmente. Ermano Trentini, um turista italiano, disse que já tinha sido informado pelo posto de turismo de que alguns museus poderiam estar encerrados. E reconheceu que, no país natal, uma greve como a de ontem também faria sentido.
O feriado tramou o piquete na Galp
São 05.45 e, à porta dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Jorge Trindade controla os acessos. "Não passou ninguém. Estamos todos solidários com a luta, incluindo os espanhóis que estão cá a acabar o navio para a Galiza", explicava, já durante a manhã, à reportagem do DN, enquanto o maior construtor naval português simplesmente parava a produção. Praticamente 100% de adesão à greve nos 760 trabalhadores da empresa, aos quais se juntaram 200 espanhóis que estão a terminar em Viana do Castelo um navio do construtor galego Barreras, que aluga a doca principal e alguns operários à empresa pública.
À porta da empresa, um dos dois piquetes de greve, com uma dezena de trabalhadores, controlava, atentamente, todas as entradas. António Marques, desenhador dos ENVC há 35 anos, repetia a greve de 2007. "Não faço greve pela situação da empresa, que era de falta de trabalho e que agora está mais controlada, mas pelo ataque que estão a fazer aos direitos dos trabalha-dores", dizia ainda, sem esconder o frio que se fazia sentir no acesso à empresa.
Mais ingrata foi a tarefa de Hélder Guerreiro. Os últimos dias foram ocupados pelo sindicalista a tentar convencer os trabalhadores da refinaria da Galp em Sines a aderirem maciçamente à greve. Mas o apelo à mobilização esbarrou com o feriado municipal daquela cidade alentejana. É que, pelo facto de terem trabalhado ontem, os funcionários da petrolífera auferiram uma remuneração de 300%. Resultado: a paralisação registou uma "adesão zero" ao nível da laboração contínua e não atingiu os dois pontos percentuais no sector administrativo.
"Só se eu não estivesse bom da cabeça é que faltava hoje. Tenho a possibilidade de ganhar o equivalente a três dias, e ficava em casa?", questionava Paulo Silva, um dos trabalhadores da Galp, admitindo que, se fosse um dia normal "até era capaz de aderir", mas nunca lhe passou pela cabeça deixar de ganhar os cerca 300 euros a que tem direito sempre que trabalha num feriado. O argumento era transversal aos colegas, para quem só o dia de ontem "já paga a letra do carro".
Também nas imediações das sedes das grandes empresas ainda com participações públicas como a PT (Fórum Picoas) ou EDP (Marquês de Pombal) a calma reinava.
"Foi um dia normal, aqui não se notou que fosse dia de greve", confirmava uma funcionária da segurança na portaria da sede da EDP, que preferiu não ser identificada. Em relação à PT, fonte da empresa assegurou que tudo correu dentro da normalidade, acrescentando que seria ainda prematuro avançar com números de adesão por causa dos diferentes turnos praticados na empresa.
Quem passasse à porta da EPAL, em Lisboa, mesmo que não tivesse contas para pagar, parava inevitavelmente , porque o facto de as suas portas estarem abertas ao público num dia de greve geral gerava admiração. Apesar de esta empresa pública ter sido uma das muitas que aderiram à greve, os seus serviços mínimos, juntamente com o facto de muitos utentes pensarem que este serviço estaria encerrado, garantiram um dia calmo, em que lá aparecia um cliente de dez em dez minutos. Segundo fonte da empresa ao DN, que confirmou o cumprimento dos serviços mínimos acordados com os organismos sindicais, aderiram à greve geral 17% dos seus trabalhadores (133), num universo de 777.
Já no interior das instalações de outra empresa pública, a RTP, permaneceram parados os carros de exteriores. "Para o jogo Sp. Braga- -Arsenal, a RTP alugou um carro à empresa espanhola da Media Luso e pagou 35 mil euros. Se tivesse ido o nosso carro de HD, teria custado à empresa apenas 19 mil euros", revela ao DN Clarice Santos, secretária-geral do Sindicato dos Audiovisuais, que adianta que a estação pública de televisão teve "uma adesão de 75% e em alguns sectores chegou aos 100%".
Clarice Santos conta ainda que a Administração da RTP se portou "de forma cordial com o piquete de greve", que se manteve durante todo o dia junto às instalações, na Av. Emídio Navarro. "O José Marquitos cumprimentou-nos, assim como o José Fragoso, director de Programas", sublinha. Na Lusa, a adesão à greve também "chegou aos 75%", segundo Nádia Rodrigues, elemento do órgão representativo dos trabalhadores. No piquete da manhã estiveram cem pessoas, vestidas de negros e com cartazes, que contaram "com a presença de Catarina Martins, deputada do Bloco de Esquerda".
Mas também houve quem quisesse fazer greve e não pudesse. Uma alteração, de última hora, nas escalas do Serviço de Transportes Urbanos de Viseu (STUV) impediu que os trabalhadores aderissem à greve. Os efectivos foram substituídos pelos contratados, mas nem assim estes motoristas deixaram de protestar.
António, que para "não ser perseguido" preferiu o anonimato, motorista do STUV, tencionava aderir à greve, "como em tantas outras", mas acabou "traído por uma alteração na escala". Na segunda-feira, as escalas foram alteradas e ao serviço passaram a estar "os contratados com horários parciais e em situação mais precária". Uma alteração "feita propositadamente, porque a administração conhece os trabalhadores grevistas, marcou-os, e sabia que se os colocasse ao serviço eles iam falhar". Entre os "potenciais grevistas estavam trabalhadores efectivos, com direitos e que a administração conhece e sabe quem são", adiantou o trabalhador.
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