Pressionado para agir rapidamente, mas consciente dos enormes riscos envolvidos, o Governo tem procurado ganhar tempo
A reforma da Administração Pública – mesmo restrita às questões orgânicas e de pessoal – constituiu uma aposta de primeira hora do Governo, na sequência de uma campanha eleitoral dirigida contra os gastos intoleráveis imputados a uma máquina administrativa obesa e letárgica.
Infelizmente para o Governo e para o País, a necessidade de ponderação indispensável ao acerto das decisões reformadoras tem vindo a ser submersa por uma pressão crescente no sentido de cortes drásticos e imediatos, com o fito único na diminuição da despesa. Pressão com origem externa, nas entidades credoras, mas também com origem interna, numa opinião pública sufocada com os sucessivos aumentos de impostos e que pensa residir na redução dos custos da máquina administrativa o nó do problema financeiro do País (bastaria confrontar as poupanças anuais associadas ao programa de extinções e fusões na administração estadual – 100 milhões de euros – com os milhares de milhões de euros de dívida do sector empresarial do Estado ou de encargos com as parcerias público-privadas para recolocar a questão em termos mais realistas).
Pressionado para agir rapidamente, mas consciente dos enormes riscos envolvidos, o Governo tem procurado ganhar tempo, anunciando medidas mais ou menos detalhadas, mas diferindo a sua concretização normativa para momentos futuros.
O primeiro exemplo foi a extinção dos governos civis, proclamada com entusiasmo logo nos primeiros dias, mas sem tradução legislativa até hoje. Como a existência dos governadores civis está prevista na Constituição, há natural curiosidade na comunidade juspublicista em saber qual o exacto conteúdo – e o destino… – da lei que os fará desaparecer do ordenamento jurídico-administrativo.
Outro exemplo relevante é o das alterações ao estatuto do pessoal dirigente, designadamente quanto ao método de designação, onde se anunciou um peso acrescido dos procedimentos concursais, mas sem concretização legislativa até ao momento. Também aqui é preciso aguardar pela aprovação do diploma.
De maior fôlego foi o anúncio da extinção de 40% dos organismos da administração estadual e de cerca de 1700 cargos dirigentes, com óbvias repercussões no plano do estatuto funcional de milhares de trabalhadores. A concretização deste vasto processo de eliminação de cargos dirigentes e de extinção, fusão e criação de estruturas administrativas do Estado estender-se-á decerto por um período temporal alargado, que permitirá esclarecer algumas dúvidas e, porventura, introduzir algumas alterações no plano inicial.
Num patamar ainda mais difuso e carecido de pormenorização, têm-se sucedido anúncios de medidas relativas a temas diversificados, desde a revisão do regime da mobilidade especial até ao chamado “pacote autárquico”.
O retardamento das providências legislativas relativamente ao anúncio das medidas não será em si motivo de crítica, se a intenção for a de permitir o amadurecimento necessário a minorar os erros em matérias tão delicadas. Importa, porém, ter presente que a utilização ad nauseam deste método pelos governos Sócrates saturou a opinião pública e limita agora a margem de manobra do actual governo.
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