Fundo alerta que há vida para além do défice. É crucial que alguns governos europeus dêem "credibilidade" à sua estratégia de crescimento
O Fundo Monetário Internacional (FMI) aconselha o Governo português e o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a moderarem a obsessão em torno da redução do défice público. Mesmo países que precisam de fazer uma forte consolidação orçamental, necessitam de apresentar soluções para pôr, quanto antes, a economia a crescer. Têm de ser credíveis nessa estratégia, avisou o FMI.
“Uma estratégia que se centre apenas no ajustamento orçamental não é ótima”, alertou o diretor do departamento de Assuntos Orçamentais do Fundo, Carlo Cottarelli, em conferência de imprensa.
Apesar de Portugal no grupo de países europeus que precisam reduzir muito o défice e que enfrentam pressões dos mercados, o dirigente do Fundo lembra que “apesar dos mercados estarem preocupados com os défices elevados, eles também se preocupam quando não vêem crescimento suficiente na economia”.
Por isso, continuou, “é necessário complementar o ajustamento orçamental nestes países com duas coisas: em primeiro lugar, reformas estruturais que impulsionem o crescimento potencial, a competitividade e a produtividade, e isto já está a acontecer; e em segundo, defesas fortes que contribuam para o declínio nas taxas de juro à medida que o ajustamento orçamental progride”.
Depois concluiu: “Isto, claro, será bom para as contas públicas, mas também será bom para o crescimento e a credibilidade de toda a estratégia. E fico-me por aqui”, disse Cottarelli.
Mais adiante, no mesmo encontro, o diretor do Fundo foi confrontado com a ideia de “países como Portugal” poderem considerar “uma revisão das metas orçamentais”. Este respondeu: “eu distingo entre países que têm espaço orçamental nas suas projeções e que podem abrandar o ritmo de ajustamento e os que estão sob pressão dos mercados, que têm de pedir empréstimos a taxas de juro elevadas”.
Sem comentar especificamente sobre países concretos, Cottarelli referiu que “devemos estabelecer claramente uma diferença entre alguns países que podem permitir um abrandamento do ritmo de ajustamento orçamental e outros que estão sob pressão e não podem”.
O perito, que alinha no tom de ênfase crescente que o FMI está a dar à urgência do crescimento, alerta que “os objetivos de crescimento precisam de ser perseguidos através de reformas estruturais que impulsionem a competitividade, produtividade e crescimento”.
Na terça-feira, o FMI alertou para o declínio nas perspetivas de crescimento mundiais e pediu medidas para "restaurar a confiança e acabar com a crise na zona euro através da promoção do crescimento". O Fundo estima que a zona euro registe uma "ligeira recessão" este ano e aponta o dedo aos efeitos combinados das políticas de austeridade, da falta de liquidez na banca e dos elevados custos da dívida soberana.
Angela Merkel também deu um contributo importante para a mudança de discurso. Numa entrevista conjunta ao “El País”, “Le Monde” e “The Guardian”, a a chanceler alemã disse que o reforço da disciplina orçamental em vários países “foi um passo positivo, mas não é suficiente”. “A Europa precisa de crescimento e de empregos”, insistiu.