Paul Krugman vê Portugal como o país mais difuso do euro, duvida que consiga pagar a sua dívida e afirma que os salários dos portugueses têm de cair até 30 por cento face à Alemanha.
Na sua coluna no New York Times, a 23 de Maio de 2011, o economista norte-americano escrevia que «é agora claro que a Grécia, Irlanda e Portugal não conseguem e não vão pagar as suas dívidas por inteiro», ou seja, a Europa teria de estar preparada para uma redução destes montantes.
Um ano antes, a 17 de Maio de 2010, Krugman frisava no seu blogue, também no diário nova-iorquino, que «neste momento, os salários na Grécia/Espanha/Portugal/Letónia/Estónia, etc. têm de cair algo como 20 a 30 por cento em relação aos salários na Alemanha».
No ano passado, o Nobel da Economia de 2008, que vai receber na segunda-feira o doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade de Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade Nova de Lisboa, acreditava que Portugal seria a próxima peça a cair no dominó da zona euro.
«Esperava que não, principalmente – claro – por causa dos portugueses (…), mas também egoisticamente porque é, de longe, o mais difuso dos países periféricos com problemas», referia então Krugman.
O que significa que a história portuguesa é «mais difícil de contar do que a da Grécia, Espanha e Irlanda», porque Portugal «não estava assim tão mal em termos orçamentais, mas também não teve um surto de preços imobiliários. Houve muito crédito ao privado, mas não é fácil explicar exactamente porquê».
«O que é claro, porém, é que nesta altura Portugal enfrenta problemas de ajustamento semelhantes aos espanhóis e, possivelmente, piores. Os custos laborais estão desalinhados com o resto da zona euro e adequá-los vai necessitar uma desvalorização interna dolorosa, ou seja, deflação», acrescentava Krugman.
O economista norte-americano estará bastante familiarizado com a realidade nacional, uma vez que foi em Lisboa que começou a trabalhar em termos de política económica, em 1976.
Num discurso na Universidade de Princeton, Krugman lembrava as «sábias palavras» do governador do Banco de Portugal na altura, Silva Lopes: «Quando eu tenho seis meses de reservas, eu terei zero reservas», numa referência à quebra de reservas que o banco central enfrentou após o 25 de Abril.
Numa página sobre «incidentes» da sua carreira, o economista esclarece: «O que aprendi dessa experiência foi o poder de ideias económicas muito simples e, simultaneamente, a inutilidade de teorias que não podem ter conteúdo operacional. Em particular, a minha experiência num país onde era um enorme desafio até decidir se a produção estava a aumentar ou a cair deu-me uma alergia crónica a modelos que dizem que uma política potencialmente útil existe sem darem uma única forma de determinar que política é essa».