O antigo ministro Bagão Félix disse hoje recear que a suspensão dos subsídios de férias e de Natal para a função pública e pensionistas seja mais prolongada do que o previsto e admite a sua eliminação definitiva.
“Ou sob a forma de supressão mais longa dos subsídios ou sob qualquer outra forma, receio de facto que se transforme, não direi numa regra definitiva, mas numa regra mais longa”, afirmou à Lusa o antigo ministro da Segurança Social e do Trabalho, que explicou que a retirada de dois de 14 meses do salário anual de uma pessoa representa uma desvalorização de 14 por cento do seu ordenado.
Bagão Félix esclareceu que “o que está em causa é a redução nominal e real dos salários numa determinada percentagem e obviamente que essa questão está, desde já, a colocar-se, na medida que com a inflação que existe e não aumentando os salários nominais, já está a acontecer uma desvalorização real do poder aquisitivo dos salários”.
Bagão Félix disse que não chega à questão da “probabilidade” da eliminação dos subsídios, mas admite que “a possibilidade está em cima da mesa”, algo que poderá aprofundar o buraco entre o setor público e o privado, caso este último venha a manter o 13.º e 14.º mês.
No que toca à questão relativa ao potencial impacto do desemprego sobre as metas definidas pelo Governo, Bagão Félix afirmou que "claramente" vai haver um embate do crescimento da taxa, que já atingiu 15 por cento, devido aos esforços exigidos quer do lado da despesa quer do lado da receita, no campo da Segurança Social e na perda de receitas de IRS e de Taxa Social Única.
O antigo governante lembrou, ainda, que quaisquer aumentos do Produto Interno Bruto (PIB) que venham a ocorrer no futuro vão ter lugar sobre um total mais baixo do que anteriormente, uma vez que este ano Portugal vai estar com um PIB inferior ao de 2001.
"O nosso PIB real em 2012, descontada a inflação, é inferior ao de 2001, para além da taxa de investimento que vai para menos de meados da década de 1990", acrescentou.
A Comissão Europeia não descartou hoje a possibilidade dos cortes nos 13.º e 14.º meses para a função pública e pensionistas assumirem caráter permanente, embora assevere que tal cenário ainda não foi discutido.
"Teremos de ver se [a medida] se tornará permanente ou não. Mas isso agora ainda não foi discutido", assegurou Peter Weiss, da direção-geral de Assuntos Económicos e Monetários da Comissão Europeia, e membro da missão de ajuda externa para Portugal.
O responsável falava aos jornalistas em Bruxelas, no final da apresentação do relatório sobre a terceira revisão do programa de assistência financeira a Portugal.
Os cortes nos 13.º e 14.º meses estão previstos durar até 2013, data em que findará o programa de resgate a Portugal.
Contas do Governo só preveem 20% dos subsídios em 2015
Valor pode aumentar para 50% em 2016
As contas do Governo só preveem o pagamento de 20% dos subsídios de férias e Natal à função pública em 2015, escreve o «Expresso» esta sexta-feira.
O ministro das finanças explicou recentemente que o pagamento dos subsídios só será reposto depois de terminar o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), acordado com a troika, em maio de 2014. Os subsídios, acrescentou, serão pagos a partir de 2015, gradualmente.
Vítor Gaspar não explicou como será feita a reposição «gradual», mas as contas do semanário revelam que a redução prevista no número de funcionários públicos até lá (as metas do Governo apontam para um corte de 35 mil), aliada ao congelamento de salários e promoções, não permite a poupança necessária para permitir o pagamento dos subsídios na íntegra, mas apenas 20%, na melhor das hipóteses. O valor pode aumentar para 50% em 2016, acrescenta.
O semanário diz mesmo que nunca esteve nas contas do Governo e da troika a reposição total dos subsídios até 2016, porque nunca existiu margem para isso.
O Governo prevê uma despesa de 16.600 milhões de euros em salários dos funcionários públicos em 2014, menos 3.100 milhões que no ano passado. Uma poupança apenas possível graças ao efeito combinado da suspensão de subsídios, da redução de funcionários públicos e do congelamento salarial e de promoções.
Os números citados pelo «Expresso» foram revistos aquando da segunda avaliação da troika, que ocorreu em novembro do ano passado, ou seja, já depois da apresentação do Orçamento do Estado para este ano, e já depois de ter sido anunciado o corte dos subsídios.
Segundo as contas do Governo, a despesa com salários dos funcionários públicos só volta a aumentar em 2015, ano de eleições legislativas. Para esse ano, o executivo aponta para um aumento de 200 milhões de euros, que chegam para aumentar os funcionários públicos em pouco mais de 1% ou para repor 10% dos subsídios. Se a redução de funcionários for maior dos que os 35 mil previstos no PAEF, talvez seja possível repor 20% logo em 2015.
Em 2016, o Governo espera ter mais 600 milhões de euros disponíveis, o que permitirá subir os subsídios para 50% do valor antigo.
Recorde-se que o PAEF prevê um corte na despesa com pessoal das Administrações Públicas até 2015, devendo esta passar dos 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) registados em 2011 para 9,1% em 2015. Trata-se de uma redução de 500 milhões de euros em quatro anos.
O anúncio de Vítor Gaspar contradiz aquilo que sempre tinha sido dito pelo Governo, segundo o qual os subsídios voltariam em 2014. O ministro disse ter-se tratado de um lapso mas há quem não hesite em chamar-lhe mentira. As contradições mereceram críticas duras por parte do PS e do PCP.