Mais de metade dos 63,5% que ganham abaixo dos 900 euros líquidos por mês têm rendimentos mensais que não ultrapassam os 600 euros
Em Portugal, quase dois terços dos trabalhadores na vida ativa ganham menos de 900 euros líquidos por mês, conclui o estudo "Um ano de troika e de governo PSD/CDS para os trabalhadores", organizado pelo economista Eugénio Rosa.
De acordo com as conclusões do estudo - que compara dados do primeiro trimestre de 2011 com os relativos ao mesmo período deste ano -, 35,5% dos trabalhadores por conta de outrem têm um rendimento salarial mensal líquido inferior a 600 euros, o que reflete um aumento de 1,9% face ao mesmo período de 2011, com 1,3 milhões de pessoas a ganharem até 600 euros líquidos por mês e mais de 2,3 milhões - 65,3% - ganhavam menos de 900 euros, mais 1,2% do que no período homólogo do último ano.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2011 e 2012, a percentagem de trabalhadores a receber salários líquidos inferiores a 310 euros também aumentou, de 3,7% para 4%, assim como os que têm rendimentos entre 310 e 600 euros (de 31,1% para 31,5%).
Em 2012, esta tendência de redução de rendimentos deverá aumentar: de acordo com as previsões da primavera divulgadas em maio, a Comissão Europeia prevê uma redução de 3,1% nos salários nominais dos trabalhadores portugueses (esta redução acompanha o aumento de IRS superior a 673 milhões de euros determinado pela diminuição de muitas deduções que tinham rendimentos do trabalho, acrescenta o estudo). Na administração pública, o valor atinge os 14%, na sequência da medida que retira aos funcionários públicos os subsídios de férias e de Natal, o que equivale a uma redução de 723 milhões de euros no seu rendimento disponível.
Desde há um ano, foram destruídos 203,5 mil empregos em Portugal, referem os dados do INE, o que significa que, por dia, 558 portugueses ficaram sem trabalho. No primeiro trimestre deste ano, o número aumentou ainda mais: entre janeiro e março, todos os dias 810 pessoas ficaram de-sempregadas. Esta evolução é demonstrada no aumento da taxa de desemprego oficial, que registou um aumento de 12,4% no primeiro trimestre de 2011, para 14,9% no período homólogo de 2012, um aumento de 689 mil para 819 mil desempregados, segundo o INE. Durante este período, o desemprego de longa duração (população sem trabalho há mais de um ano) cresceu de 365,2 mil para 416,2 mil pessoas, representando já em 2012 mais de metade do total dos desempregados residentes em Portugal. Estes números não incluem a taxa de desemprego real, que considera pessoas que não estão inscritas nos centros de emprego ou que não estão à procura de trabalho.
De acordo com a notícia avançada pelo DN/Dinheiro Vivo na última quarta-feira, 45% dos jovens entre os 15 e os 24 anos estão desempregados, segundo dados do INE. A Comissão Europeia estima que Portugal termine 2012 com uma taxa de desemprego médio de 15,5%, o que significa um aumento estimado de 0,6% nos próximos seis meses. Para 2013, a UE aponta uma ligeira descida, para os 15,1%.