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A formiga no carreiro

Descida das despesas com pessoal foi a principal responsável pelo facto de o défice do Estado ter ficado mais de 200 milhões de euros abaixo do acordado com a troika. As receitas fiscais continuam em queda, mas a menor ritmo.

A despesa com pessoal da Administração Pública caiu 16,8% nos primeiros seis meses do ano, segundo dados da execução orçamental revelados hoje pela Direcção-Geral do Orçamento (DGO). O valor recorde foi atingido em Junho, o primeiro mês em que já se sente o impacto da cativação dos subsídios da função pública. 

A quebra da despesa com salários é claramente a rubrica que está a correr melhor na execução do Orçamento do Estado, que fechou o primeiro semestre com um défice acumulado de 4.138 milhões de euros. Fica assim cumprida a meta semestral fixada com a troika, que estipulava um défice máximo de 4.400 milhões de euros. 

Ainda do lado da despesa, a DGO reporta hoje uma diminuição das compras de bens e serviços da ordem dos 4,9%, que fica claramente abaixo do valor atingido em Maio mas que já reflecte o pagamento das dívidas a fornecedores do Serviço Nacional de Saúde, uma operação financiada através da transferência de fundos de pensões da banca. 

A despesa efectiva, que estava a aumentar no mês anterior, passa agora a cair 2,3%. Além das rubricas de bens e serviços e factura salarial, aqui é também levado em conta o abrandamento expressivo dos gastos com juros, que estão a convergir para taxas de crescimento mais “normais”, à medida que se dissipam os efeitos base que se fizeram sentir durante os primeiros meses do ano. 

Receitas abrandam queda


Apesar dos bons números do lado da despesa, a evolução da receita continua a ser problemática. A execução de Junho mostra que a situação melhorou face a Maio – um mês em que o próprio ministro das Finanças admitiu que atingir os objectivos tinha ficado “mais difícil” – mas a um ritmo insuficiente para atingir as metas fixadas no Orçamento rectificativo. 

Assim, os impostos directos, onde se incluem o IRS e o IRC, estão a aumentar 0,4%, apenas mais 0,1 pontos percentuais do que em Maio. E os impostos indirectos (nos quais o IVA tem o maior peso) estão a cair 5%, depois de terem recuado 5,7%. O Rectificativo aponta para uma variação positiva de 1,7%, mas apesar das medidas já implementadas, como a alteração da estrutura de taxas, a receita colectada está a cair. 

Estes valores não são directamente comparáveis com as metas anuais acordadas com a troika. O défice de 4,5%, que o Governo ainda considera ser possível de atingir, é apurado na óptica das Contas Nacionais, que difere da óptica utilizada pela DGO. Os números mais recentes apurados em Contabilidade Nacional são relativos aos primeiros três meses do ano e apontam para um buraco orçamental de cerca de 7,9% do PIB.

O défice orçamental das Administrações Públicas no primeiro semestre do ano, do modo como é calculado pela ‘troika’, foi de 4.137,8 milhões de euros em contabilidade pública, cumprindo assim o objectivo do memorando.

O dinheiro que fica nos cofres do Estado que seria correspondente aos subsídios de férias dos funcionários públicos acaba por ser o maior contributo para o cumprimento das metas para efeito de programa e permite mais que duplicar a redução das despesas com pessoal face ao alcançado em Maio.


O acordado com a ‘troika’ prevê que a conta consolidada da Administração Pública não ultrapassa-se um défice de 4.400 milhões de euros, não discriminados por sector, mas esta contabilização exclui um conjunto de operações contabilisticamente importantes, como explicam as contas da Direcção-Geral do Orçamento na síntese de execução orçamental do primeiro semestre divulgada hoje.

Entre estas, está a transferência dos fundos de pensões da banca, cuja última parcela foi transferida para a Segurança Social em Junho - no valor de 2.784 milhões de euros - e ainda da não consideração do pagamento de dívidas em atraso do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a inclusão nas contas de um conjunto de garantias, empréstimos e activos financeiros – no valor de 34,7 milhões de euros – que não seriam considerados normalmente.


Incluindo estas operações, e contabilizando o universo real da Administração Central e da Segurança Social no primeiro trimestre do ano, o défice orçamental em contabilidade pública foi de 1.709,7 milhões de euros, e considerando um universo comparável com o que existia nos primeiros seis meses de 2011, o défice ficaria nos 1.237,2 milhões de euros.

Só considerando o mês de Junho, e em comparação com o mesmo mês de 2011 e universo que existia na altura, a Administração Central e a Segurança Social conseguem mesmo um saldo positivo na ordem dos 400 mil euros.

A grande diferença está mesmo na transferência 2.784 milhões de euros para a Segurança Social correspondente às responsabilidades com os fundos de pensões da banca, agora nas mãos do da Segurança Social, e ainda do efeito da suspensão do subsídio de férias aos funcionários públicos, que também ocorreu em Junho.


De acordo com as contas do Governo, as despesas com pessoal estariam a cair 7,3 por cento até Maio, e passaram a cair 16,8 por cento em Junho (Administração Central mais Segurança Social, conta consolidada) comparando com os primeiros seis meses de 2011 e com o mesmo universo, o que permite estar acima do previsto no Orçamento do Estado para 2012, que era uma queda de 13 por cento.

Este efeito deve-se não só (mas em grande parte) à suspensão dos subsídios de férias, mas também da evolução do número de funcionários públicos e outras alterações.

Se o valor das despesas com pessoal no primeiro semestre de 2011 for comparado com valor do universo real (ou seja incluindo as entidades públicas reclassificadas) existente no primeiro semestre de 2012, a queda é de 11,82 por cento, ou 784,2 milhões de euros.

Lusa/SOL

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