O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) defende que as valorizações salariais também são “obrigação legal” em 2012 e não devem apenas ter validade a partir de 1 de Janeiro de 2013, como proposto pelo Governo.
Em causa estão os docentes universitários e do ensino politécnico que este ano progrediram na carreira ao abrigo do regime de transição, mas que não estão a ser pagos de acordo com a categoria a que passaram a pertencer.
Em declarações ao PÚBLICO, o presidente do SNESup, António Vicente, frisou que a necessidade de correcção desta situação com efeitos a partir de 2012 acabou por ser reforçada, quinta-feira, pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), quando assumiu, pela primeira vez, que a valorização salarial dos docentes que sobem de categoria ao abrigo do regime de transição, prevista para o próximo ano, decorre de obrigações legais.
“Vemos com bons olhos que o ministério reconheça agora o que sempre afirmámos. Só estranhamos é que não tenha tomado esta posição antes, o que teria evitado muitos problemas”, afirmou.
O Orçamento do Estado (OE) para 2012 estendeu a estes docentes a proibição de qualquer valorização remuneratório à semelhança do que já acontecia com a generalidade dos funcionários públicos. Com base no artigo 20 da lei do OE, os professores que transitaram para as categorias de professor auxiliar ou adjunto ao longo deste ano têm sido remunerados com um salário correspondente à categoria anterior (assistente).
Esta decisão foi contestada por sindicatos, criticada por responsáveis das instituições do ensino superior e motivou acções judiciais movidas pelo SNESup, que ainda estão em curso.
Na quinta-feira, em reacção a uma notícia do PÚBLICO e Jornal de Negócios, o MEC acabou por lhes dar razão ao confirmar que a valorização remuneratória dos professores que transitaram para aquelas categorias decorre das obrigações legais impostas pelo regime de transição aprovado em 2010, na sequência dos novos estatutos das carreiras dos docentes. Em 2013 o Governo pretende corrigir esta situação, mas sem efeitos retroactivos.
Sindicatos dizem que há outras obrigações legais
O assunto esteve ontem em cima da mesa durante uma reunião entre os sindicatos da função pública e o secretário de Estado que tutela a área, Hélder Rosalino. No encontro, estes sindicatos deixaram claro que gostariam que as obrigações legais relacionadas com as progressões na carreira fossem cumpridas em todo o universo do Estado, independentemente das especificidades de cada carreira.
“Estes professores vão beneficiar do que já deviam ter beneficiado este ano. Entendemos a excepção. Era uma questão de funcionamento das universidades que tinha de ser resolvida. Mas há mais coisas que têm que ser resolvidas”, realçou Jorge Nobre dos Santos, coordenador da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP).
"Também decorrem da lei as progressões na carreira resultantes da avaliação e o pagamento dos subsídios. A verdade é que tudo isso continua suspenso", acrescentou.
Bettencourt Picanço, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), acusa o Governo de estar a "beneficiar um grupo", quando “a maioria dos funcionários públicos não pode ter valorizações remuneratórias". "É óbvio que é uma excepção", diz,
Além disso, lembra, toda a Administração rege-se por obrigações legais que têm sido “sistematicamente suspensas”.
O presidente da SNESup não considera que os docentes do ensino superior “vão ser excepcionados” de uma norma, uma vez que não só têm “uma carreira especial”, como a sua situação “decorre de uma exigência” legal. Os docentes que estão ao abrigo do regime de transição “não têm outra alternativa senão fazer um doutoramento para poderem transitar. Se não o fizerem vão para a rua”, frisa.
A categoria de assistente onde se encontram estes professores já não está contemplada nos novos estatutos das carreiras dos docentes universitário e do politécnico. Foi-lhes dado um prazo de cinco anos, que termina em 2015, para obterem as qualificações necessárias à sua contratação pelas instituições enquanto professores auxiliares ou adjuntos.
O congelamento dos aumentos salariais derivados da progressão na carreira continuará em 2013 a ser a norma na função pública. Na edição de quinta-feira, o PÚBLICO noticiou que, no próximo ano, os professores do ensino superior iriam ficar a salvo deste constrangimento. Na altura não foi referido que esta excepção só se aplica aos docentes que se encontram ao abrigo do regime de transição e que, segundo António Vicente, serão várias centenas.