Secretário de Estado garante que as reformas serão suficientes para cumprir objectivo da troika
O secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, garantiu ao i que o cenário de despedimentos na função pública não está em cima da mesa e que o executivo prevê atingir os objectivos que constam do Memorando da troika – uma redução de efectivos de 2% ao ano – apenas através das reformas e do congelamento da renovação dos contratos até 50% em 2013.
Outro dos instrumentos é o controlo de novas admissões, apenas previstas para situações muito específicas, como o sector da saúde, em que estão previstas novas contratações.
Os números divulgados pela Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público confirmam esta linha de actuação. Entre 31 de Dezembro de 2011 e 30 de Junho deste ano saíram do Estado 8640 trabalhadores, um número que quase duplicou os 4451 que deixaram de trabalhar em funções públicas em idêntico período do ano passado. O que significa que, se as saídas continuarem a este ritmo, no final de 2014 haverá menos 51 840 funcionários públicos, sem quaisquer medidas extraordinárias, por via apenas das aposentações.
Se a isto somarmos a não renovação dos contratos a termo em 2013, que deverá atingir cerca de 40 mil trabalhadores nos próximos dois anos, então a meta dos 2% ao ano deverá ser ultrapassada, admitindo o secretário de Estado que ela possa rondar os 3% ao ano.
Os dados mostram também que o ritmo de saídas aumentou do primeiro para o segundo semestre deste ano, de 3271 para 5269, respectivamente, quando ainda não eram conhecidas as novas regras de aposentação, que vão fazer com que, já a partir do ano que vem, os funcionários não possam pedir a aposentação por inteiro antes dos 65 anos de idade, contra os 63 anos e seis meses que estarão em vigor até final deste ano.
Ou seja, com a subida da idade da reforma, é previsível que em 2013, atendendo ao tempo que a Caixa Geral de Aposentações demora a despachar as reformas, o fluxo de reduções aumente ainda mais, baixando significativamente o número total de trabalhadores no Estado.
“Contamos fazer essa redução meramente através das aposentações”, explicou o secretário de Estado da Administração Pública. “É por isso que as reformas antecipadas não foram congeladas no sector público, ao contrário do que aconteceu no privado. Pretendemos estimular a saída dos funcionários públicos e a reorganização dos serviços, de forma que se faça mais com menos.”
MAIS DE 55 ANOS A 31 de Dezembro de 2011 havia um universo de 105 827 trabalhadores com mais de 55 anos em condições de se aposentarem nos próximos três anos sem grandes penalizações. Destes, cerca de 5 mil tinham mais de 65 anos, tendo passado há muito a idade legal da reforma.
“O principal objectivo do governo”, disse ainda Hélder Rosalino, “é a redução do peso dos salários públicos no produto interno bruto (PIB). A despesa com pessoal, no total, caiu 4,4 mil milhões de euros entre 2011 e 2012, dos quais 1,8 mil milhões correspondem ao corte nos dois subsídios e cerca de 800 milhões às reduções dos vencimentos mais altos, entre 5% e 10%. O que significa que, mesmo assim, o Estado pagou cerca de 1,8 mil milhões de euros a menos em vencimentos.”
FUNDO PARA DESPEDIMENTOS
Afastada está totalmente a hipótese de ser criado um fundo específico para apoiar despedimentos na função pública. Um dos instrumentos avançados como provável nos últimos dias pela imprensa para esta finalidade seria o Fundo de Pensões do Banco de Portugal, no valor de 1,2 mil milhões de euros. Acontece que esta hipótese é inviável porque os bancos centrais estão impedidos de financiar os orçamentos dos estados. Para que fosse possível tal utilização, seria necessário rever tratados europeus e os próprios estatutos do Banco Central Europeu.
Mas a transferência de outros fundos de pensões para o Estado tem sido utilizada em operações contabilísticas para diminuir o défice, embora o destino das verbas continue a ser o pagamento das pensões dos trabalhadores que descontaram para esses mesmos fundos.
No caso dos fundos de empresas que passaram para a Caixa Geral de Aposentações, como o da Portugal Telecom, estes continuam a existir dentro da própria CGA, tendo como objectivo o pagamento das reformas dos aposentados dessas empresas.
Já no caso das transferências dos fundos de pensões da banca para a Segurança Social a situação foi diferente. Parte das verbas foram utilizadas para pagar dívidas vencidas do sector da saúde, mas o Estado continua obrigado a fazer o provisionamento dessas pensões anualmente. Uma verba de 500 milhões de euros.