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A formiga no carreiro

Quando em 2011 se olhava para 2012, esse era “o ano de todos os medos”. Um ano de austeridade num país habituado a viver em crise. Este ano volta a ser de aperto de cinto. Das mais pesadas às menos abrangentes, um breve retrato de medidas que vão pesar no bolso dos portugueses em 2013.


1. Menos escalões de IRS, taxas mais pesadas

O número de escalões do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) foi reduzido, passando a haver mudanças nas respectivas taxas à colecta. Em vez dos actuais oito escalões, há apenas cinco. Todos sofrem um agravamento.

Até aos 7000 euros de rendimento colectável, é aplicada uma taxa de 14,5%. Dos 7000 aos 20 mil euros, a taxa normal é de 28,5% e a taxa média de 23,6%. No terceiro escalão, dos 20 mil aos 40 mil euros de rendimento, a taxa normal é de 37% e a média de 30,3%. Para quem tem um rendimento dos 40 mil aos 80 mil euros, é aplicada uma taxa de 45%, sendo a taxa média de 37,65%. Para os rendimentos mais altos, superiores a 80 mil euros, a taxa sobe para 48%.

Com as mexidas nos escalões, há também mudanças nos limites de deduções à colecta, por exemplo, de despesas com saúde e educação. A somar a isto há que contar com a introdução da sobretaxa de 3,5% e uma taxa adicional de 2,5% para o escalão mais elevado, a chamada “taxa de solidariedade”.


2.A sobretaxa de 3,5%

O agravamento de IRS não se limita à recomposição dos escalões. Além destas mexidas, é preciso ter em conta o facto de todos os meses ser aplicada uma sobretaxa de 3,5% na retenção na fonte. Este agravamento é sentido no bolso dos contribuintes a partir desta terça-feira, na mesma altura em que esta receita começa a entrar nos cofres do Estado.


3.Subsídios diluídos ao longo do ano

Para aliviar o impacto do aumento da factura fiscal, o Governo decidiu uma modalidade diferente para o pagamento dos subsídios de férias e Natal – embora em termos anuais as mudanças não compensem a perda de rendimento mensal. Isto tanto para os funcionários públicos e os trabalhadores do privado como para os pensionistas.

À função pública é cortado o subsídio de férias, enquanto o de Natal é diluído pelos 12 meses do ano (o subsídio de férias é cortado na totalidade para quem recebe mais de 1100 euros brutos mensais e parcialmente para quem recebe mais de 600 euros).

Quem trabalha no privado recebe os dois subsídios. Metade do 13.º mês é entregue em duodécimos e o mesmo acontece com metade do 14.º. Os restantes 50% de cada um deles são pagos nos períodos habituais.

No caso dos reformados que sofrem corte (pensões acima de 600 euros), o subsídio de Natal também é pago em duodécimos, enquanto o de férias é cortado até um máximo de 90%. Em todos os casos, a tributação dos subsídios pagos em duodécimos é feita em separado em relação ao salário mensal.

4.Taxa de 28% sobre os rendimentos de capital

O agravamento da carga fiscal para nível-recorde, que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, reconheceu tratar-se de um “enorme aumento de impostos”, não se fica por aqui. Se já em Setembro passado o Governo subiu a tributação sobre os rendimentos de capitais de 25% para 26,5%, agora em 2013 estes voltam a subir para 28%. A mesma taxa é aplicada às mais-valias mobiliárias, nomeadamente as que são obtidas em bolsa.


5.Subida de imposto sobre imóveis mais valiosos

Foi posta em marcha como medida extraordinária em 2012 e mantém-se em 2013: os impostos a cobrar sobre os imóveis com o valor de um milhão de euros ou mais sofrem um agravamento de 1%. À taxa do IMI aplicada ao imóvel, soma-se uma nova taxa aplicada em sede de Imposto de Selo.


6.O IMI e a cláusula de salvaguarda

No meio de uma crise política na coligação quando o Orçamento do Estado ainda estava em aberto, o Governo acabou por ceder, em Outubro, nas mexidas no Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) que agora entram em vigor. A cláusula de salvaguarda mantém-se, mas não trava o aumento do imposto acima dos 75 euros para muitos proprietários que sofrem reavaliação patrimonial em curso.

Fica isento de aumento quem tem rendimentos mais baixos. Para os restantes, porém, quando é aplicada a cláusula, os proprietários podem ficar sujeitos ou a esses 75 euros ou a um terço do aumento que decorre da reavaliação do imóvel.


7.Electricidade aumenta 2,8%

O aumento do preço da electricidade não decorre de decisão do Governo, mas da entidade reguladora do sector, a ERSE, a quem cabe decidir as tarifas em função de uma série de variáveis. Para cerca de 5,6 milhões de consumidores, haverá um aumento médio do preço de 2,8% já a partir deJaneiro (podendo haver mais ao longo de 2013).

Nesta fase de transição, enquanto os consumidores podem começar a mudar de fornecedor de electricidade, as tarifas fixadas pela ERSE aplicam-se a quem está no chamado mercado regulado, ou seja, a larga maioria de consumidores que ainda não escolheu o novo operador. O agravamento traduz-se num aumento de 1,24 euros para quem paga, em média, 46,5 euros de electricidade por mês.


8.Tabaco

Mais uma fonte onde o Governo conta ir buscar receita fiscal é através do aumento do imposto sobre o tabaco. No caso dos cigarros, a subida fica próxima dos 10%, menos do que no tabaco de enrolar, que terá uma subida de 19%. Com estas mexidas, o Executivo aponta para uma receita adicional de 36,4 milhões de euros, para 1386,4 milhões de euros.


9.Novo imposto sobre os jogos da Santa Casa

Euromilhões, Totoloto, Joker, Totobola, Lotaria Clássica, Lotaria Popular e Lotaria Instantânea (a famosa “raspadinha”): quem, a partir de agora, ganhar um prémio de um jogo social com um valor igual ou superior a 5000 euros terá de pagar um imposto de 20%.

A nova taxa é aplicada em sede de Imposto de Selo. A medida abrange todos os jogos sociais geridos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Com o novo imposto, o Governo estima um encaixe de 55 milhões de euros.


10. Os automóveis de alta cilindrada

O Imposto Único de Circulação é actualizado de acordo com a inflação. O Governo espera arrecadar 198,6 milhões de euros com este imposto em 2013. Já os veículos ligeiros e motociclos de alta cilindrada, embarcações de recreio e jactos particulares têm um agravamento de 10%.


2012 não foi bom para funcionários públicos nem pensionistas; 2013 não vai ser melhor

 

Suspensões e reduções: o que acontece aos subsídios

O subsídio de férias permanece congelado, se ganhar mais de 1100 euros. Quem ganhe mais de 600 euros e menos de 1100 euros fica sujeito a uma redução, segundo este cálculo: subsídio = 1320 - 1,2 x remuneração base mensal.

Já o subsídio de Natal será diluído por 12 meses. «O aumento mensal do rendimento disponível dos trabalhadores e pensionistas através do pagamento em duodécimos dos subsídios será minorado com o agravamento das taxas de retenção na fonte». No entanto, o pouco ganho que poderão sentir no fim do mês será anulado com apuramento do imposto a pagar a final de acordo com as novas regras de tributação, explica Luísa Campos Ferreira, da JPAB - Advogados. 

«Num determinado caso em concreto, o escalão de rendimentos para 2013, face a esta forma de pagamento do subsídios, poderá manter-se inalterado, uma vez que o rendimento anual para o trabalhador será o mesmo, quer receba o subsídio de uma só vez, quer receba o subsídio em duodécimos», sublinha Luísa Campos Ferreira, da JPAB - Advogados. 

«Todavia, poderão existir algumas implicações no que concerne à retenção na fonte, pois haverá a necessidade de aplicação de uma taxa superior, se o rendimento mensal aumentar. No entanto, uma vez que o rendimento anual englobado se mantém inalterado e as retenções de IRS efectuadas na fonte serão consideradas para o apuramento do imposto a pagar, poderá não haver diferença no resultado final. Ou seja, a diluição do subsídio em duodécimos poderá compensar, ao longo do ano, o aumento dos impostos, mas não terá qualquer efeito face ao agravamento fiscal previsto na liquidação de IRS de 2013, explica a especialista.

Ou seja, para Luís Leon, da Deloitte, 2013 pode ser «menos mau» do que 2012: «Dizer que é melhor, não se pode».

Corte salarial é para ficar

Pensava que era tudo? Não... o corte salarial entre 3,5% e 10% nos salários superiores a 1500 euros brutos por mês mantém-se, como em 2012.

Horas extra passam a metade

As horas extra serão reduzidas para metade. Na primeira hora o pagamento será de 12,5%, 18,75% nas seguintes e 25% em dia de descanso ou feriado. 

Subsídio de doença

Perdem o direito ao salário nos primeiros três dias de baixa. Daí até ao trigésimo dia, o corte é de 10%.

Despedimentos

O Orçamento do Estado para 2013 quer reduzir o número de contratados a termo da função pública em 50%. Só as forças de segurança estão fora desta regra. Este ano, deverão deixar a Função Pública 34 mil pessoas: o Executivo já ultrapassou a meta exigida, mas quer ir mais longe. As entradas em 2013 vão ser examinadas ao detalhe: serão exceções, que carecem de autorização governamental. O processo de rescisões amigáveis também está prometido para o início do novo ano. Quem está na mobilidade especial também pode receber propostas para sair.

Mobilidade especial: é movediça
Na mobilidade especial, seja no quadro de excedentários, seja com licença extraordinária, os funcionários públicos vão perdendo parte do seu vencimento há medida que os anos passam. Mas o Governo parece que quer fazer algumas alterações a esses valores para reduzir o «incentivo à permanência no quadro de excedentários».

Reforma

A idade da reforma aumenta para 65 anos já em 2013. Com esta subida, a idade da reforma na função pública converge com a do setor privado, já no ano que vem, sendo antecipada. Ficam fora destas regras as forças de segurança, de novo, juízes e funcionários judiciais.

Mais horas e menos dinheiro

O Governo não é claro sobre o futuro, mas já admitiu que quer reformular o modelo de organização e duração do tempo de trabalho: isso quer dizer mais horas, e o mesmo salário.

Se a ideia for aproximar o horário semanal da média europeia: das 35 horas para as 37,5 horas, isto significa mais meia hora por dia, e exatamente pelo mesmo salário.


Governo tem já um plano de contingência, no valor de 0,5% do PIB, que inclui cortes adicionais na factura salarial dos funcionários públicos.


Caso o défice orçamental previsto para 2013 comece a derrapar, o Governo tem preparado um plano de contingência que passará por reduzir ainda mais a factura salarial do Estado.

 

Essa redução não implica apenas mexidas nos salários dos funcionários públicos, mas poderá passar pela combinação de várias medidas que permitam fazer cair as despesas com pessoal ainda mais do que aquilo que já está previsto no Orçamento do Estado para 2013.


No relatório da sexta avaliação do programa de ajustamento português, a Comissão Europeia destaca que as autoridades portugueses estão a preparar um plano de contingência no valor de 0,5% do PIB (850 milhões de euros), que passará em grande medida por "reduções adicionais na factura salarial e por um aumento da eficiência no funcionamento da Administração Pública". O PÚBLICO apurou que o Governo tem em cima da mesa várias opções.


Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, propõe debate alargado sobre a organização e gestão do sector público.

O governador do Banco de Portugal apresentou esta quinta-feira um ciclo de conferências subordinadas ao tema “Para uma Reforma Abrangente da Organização e Gestão do Sector Público”, que propõe um debate alargado sobre as funções do Estado e a gestão do sector público.


“A razão que motiva esta iniciativa está ligada com o facto de, no actual contexto de crise, ser natural que a sociedade queira revisitar o tema” das funções do Estado, explicou Carlos Costa, durante a conferência de apresentação da iniciativa. “A iniciativa tem um plano próprio e que consiste numa reflexão sobre as funções do estado para que essas funções sejam cumpridas com a maior efectividade possível”.


De acordo com o governador do Banco de Portugal, este debate centra-se em duas palavras-chave: efectividade e eficiência. “O serviço público é tanto mais efectivo quanto maior for o grau de satisfação que consegue gerar nos cidadãos, quanto mais o seu produto se ajusta às necessidades do cidadão”, afirmou.

“A eficiência dos serviços tem a ver com a sua produtividade. Efectividade e eficiência têm de ser tidas em conta na reforma da administração pública. A situação orçamental torna particularmente relevante a eficiência dos serviços públicos e os seus custos”, acrescentou Carlos Costa.


O governador do banco de Portugal sublinhou ainda que a reforma do sector público não será “credível” se não tiver associada à ideia de permanência e estabilidade.

As conferências terão lugar nos dias 28, 29 e 30 de Janeiro, e são organizadas pelo Banco de Portugal, Conselho das Finanças Públicas e pela Fundação Calouste Gulbenkian.

O relatório da Comissão aponta para que a redução de trabalhadores na administração pública esteja a acontecer a um ritmo mais rápido do que o objectivo fixado.

“A redução de pessoal está a progredir a um ritmo mais rápido do que inicialmente previsto, com a redução anual estimada a ser superior a 3%, o que compara com o objectivo de 2%, segundo as últimas estimativas das autoridades”, revela o relatório da Comissão Europeia da sexta avaliação do programa de ajustamento português.

 

A Comissão adianta que o programa de mobilidade especial está a ser alterado e que “espera-se uma reforma mais profunda no próximo ano para apoiar a reforma da administração pública”, que passará por uma melhor alocação dos recursos humanos, através de formação e requalificação.

 

No relatório é ainda referido que, até ao final deste ano, deverá ser divulgado um estudo alargado com a comparação dos salários que são praticados no sector público e privado.


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