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A formiga no carreiro

Dez anos depois, o cartão do cidadão vai entrar numa nova fase, um “upgrade”, com novas funcionalidades. Em 2017, haverá um Orçamento Participativo na Administração Central.

 

O Governo vai criar um laboratório que sirva de incubadora para projectos inovadores a aplicar na Administração Pública. A medida, para avançar durante este ano, quer poupar tempo e diminuir o risco de falhar quando chegar a hora de colocar no terreno procedimentos “amigos do cidadão”. A “verdadeira reforma do Estado”, avança a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa para a qual, sublinha, “não é preciso construir um edifício, nem contratar pessoas”.

 

Definir uma política de promoção da partilha de serviços como, por exemplo, a centralização de comunicações (móveis e dados) para todas as entidades tuteladas pela Presidência do Conselho de Ministros e a criação de centros de competências (nas áreas jurídica e das tecnologias de informação e comunicação) são outras medidas a implementar e conseguir assim poupanças na ordem dos 150 mil euros. Para avançar com esta “reforma do Estado”, a ministra tem um orçamento de 400 mil euros através da Agência para a Modernização Administrativa.

 

“Essa ideia da reforma do Estado que se faz por milagre através de um documento de 100, 200 ou 500 páginas é uma ilusão. A verdadeira reforma do Estado é aquela que se faz quando se é permanentemente inovador”, assinala Maria Manuel Leitão.

Para a governante, a inovação começa pela experimentação e pela prova de conceito. E dá como exemplo o cartão do cidadão lançado pela própria há dez anos. “Num espaço criado para o efeito, reunimos empresas e todas as entidades públicas necessárias para criar um cartão integrado. Antes de avançarmos para o projecto-piloto, que começou na ilha do Faial, provámos que o conceito era viável porque fizemos a demonstração de como o tínhamos de fazer e o resultado que seria obtido”, um caminho que, destaca, “poupou tempo e diminuiu o risco de falhar”.

 

Agora, chegou a hora de um “upgrade” do cartão. “Vamos olhar para novas funcionalidades e outras formas de usar a vertente electrónica. O cartão faz dez anos e já merece uma atenção especial”, assinala.

“É com esta noção que vamos criar este laboratório, com uma estrutura muito leve, para podermos experimentar previamente ideias inovadoras que poderão depois ser aplicadas quer ao nível da Administração Central, quer Local”, diz. Para tal, conta com as colaborações das entidades privadas, universidades e centros de investigação.

“Esta cultura de experimentação não é típica da Administração Pública mas deve ser cada vez mais incentivada por duas razões: primeiro porque temos pouco dinheiro e quanto menos errar melhor; segundo, porque precisamos de inovar mais porque a pressão sobre a despesa pública é grande”, conclui.

 

A ministra da Presidência anuncia ainda que em Maio vão ser conhecidas as primeiras medidas do Simplex, os respectivos prazos para as colocar no terreno e as entidades que as vão concretizar. Uma das prioridades vai ser a de organizar, por parte do Estado, a recepção de informação para depois ser partilhada pelos serviços públicos.

Até lá, continua a volta nacional do Simplex, com a ministra a realçar que a outra parte menos visível deste programa também está a ser feita numa rede que envolve todos os ministérios. “É a vertente menos conhecida mas é muito importante quando estamos a fazer este esforço de reduzir a  despesa”, termina.

Empreendedorismo social
A ministra da presidência e da Modernização Administrativa quer que 2017 fique marcado com a primeira experiência de um Orçamento Participativo a ser implementado pela Administração Central. Maria Manuel Leitão admite que ainda não há “trabalho intenso a ser feito neste programa”, até porque o foco esteve na elaboração do Orçamento de Estado e no relançamento do Simplex, mas que se trata de um projecto “totalmente novo e que nos será caro”.

“Ainda estamos a desenhar o programa. Há muitas experiências de orçamentos participativos a nível local a serem usadas cada vez mais por municípios. Queremos transpor esta ideia para o nível nacional onde não há nenhuma experiência”, refere, anunciando que este orçamento participativo tanto poderá incidir numa área territorial como sectorial.

Para este ano, estão previstos 150 milhões de euros dos fundos comunitários (Portugal 2020) que o Ministério vai disponibilizar através da iniciativa Portugal Inovação Social, criada em 2014. Maria Manuel Leitão Marques anuncia para breve a abertura de três linhas de financiamento. Uma de capacitação de iniciativas de empreendedorismo social, ou seja para empresas já instaladas que necessitam de apoio financeiro para se consolidarem; a segunda para títulos de impacto social em que o financiamento é concedido em relação aos resultados obtidos e a terceira para os fundos de investimento social que mobilizem a sociedade civil a apresentar iniciativas.

 

“Usar fundos comunitários para este efeito é a primeira iniciativa do género na Europa”, realça, destacando que o programa é “diferente daquilo que tem sido feito”.

“Queremos capacitar os que já estão no terreno e arranjar novos empreendedores”, afirma, dando como exemplos de sucesso o projecto “Fruta Feia” que, estando já criado e a funcionar, necessita de apoio para se consolidar e alargar a sua rede de acção, ou a “Academia de Código”, promovida pela Câmara de Lisboa, e que actua na área da Educação.

“Hoje já há empreendedorismo social relevante na área da Educação, da Saúde, no apoio à terceira idade. mas queremos mobilizar a sociedade civil para iniciativas que, não substituindo o Estado, complementam a oferta pública em domínios onde ela não é suficiente”, sublinha.

Os primeiros resultados das candidaturas deverão ser conhecidos no final do primeiro semestre e uma das vantagens destacadas é a criação de postos de trabalho.

Fonte

Estado gastou mais de 7,8 milhões de euros no programa de rescisões terminado em Junho.

 

Apenas 272 trabalhadores rescindiram contrato com as autarquias onde trabalhavam, ao abrigo do programa de rescisões amigáveis que o Governo anterior tinha lançado. “Um fracasso total” , como classifica agora o ministro-Adjunto Eduardo Cabrita, em entrevista que será publicada esta semana.

 

No total, foram gastos mais de sete milhões de euros (7.808.966 euros) com este programa que o Governo de Passos Coelho lançou em Outubro de 2014 e decorreu até 30 de Junho de 2015. Um número que aponta para uma média de indemnização a rondar os 30 mil euros por trabalhador. Segundo o gabinete de Eduardo Cabrita, a informação reportada à Direcção-Geral da Administração Local até ao momento mostra que foram 91 as entidades celebraram acordos de rescisão no âmbito deste programa. A esmagadora maioria foram câmaras municipais (71), mas também serviços municipalizados (6), uma comunidade intermunicipal e uma associação de municípios de fins específicos.

 

A fraca adesão ao programa era uma informação que o Diário Económico já tinha dado conta em Agosto. Na altura, a secretaria de Estado da Administração Local não quis divulgar os números finais, mas algumas câmaras adiantaram os seus dados. Lisboa, a maior câmara do país, com 7.703 trabalhadores, presidida por Fernando Medina, explicou então que tinha recebido 50 pedidos para rescindir ao abrigo do programa do Governo e aprovou 46. Dos pedidos aceites, 19 eram técnicos superiores, 13 assistentes técnicos e 14 assistentes operacionais.O encargo previsto para o total dos custos com estas rescisões ascende a 1,9 milhões de euros.

 

A redução de trabalhadores no Estado tinha sido um dos compromissos assinados entre o Governo e a ‘troika’. No entanto, o facto de algumas autarquias estarem a braços com carências de pessoal levou mesmo a que alguns municípios tenham declinado pedidos de rescisão que lhe foram feitos. Foi o caso, por exemplo, da Câmara Municipal de Sintra.

 

Os dados oficiais da Direcção-geral do Emprego Público mostram que na administração local foram eliminados 13.485 postos de trabalho entre Dezembro de 2011 e Junho de 2015. Uma redução de 11% em quase quatro anos, através sobretudo de passagem à reforma.

 

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