As escolas públicas perderam quatro vezes mais professores do que as escolas privadas. Três quartos destas saídas aconteceram durante os anos de intervenção da troika.
Do ano 2004 a 2015 saíram 42 mil docentes do sistema de ensino, três quartos das saídas aconteceu durante os anos da troika. Estes dados foram publicados, no final do mês de julho, pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação da Ciência (DGEEC), no relatório sobre o Perfil do Docente.
A última atualização do relatório diz respeito ao ano letivo de 2014/2015 e dá conta que nos dez anos anteriores 42.165 docentes deixaram as escolas nacionais. Este valor representa mais de um quarto (27%) do total de efetivos que estavam no serviço em 2004/2005. Os números dos que saíram foi superior no 3º ciclo e no ensino secundário, mas a tendência foi transversal aos diferentes níveis de ensino.
Esta realidade afetou sobretudo as escolas públicas, com uma taxa de 98% de abandono de docentes, na última década. Já os colégios privados perderam menos de mil professores em dez anos (920), o que traduz uma quebra de 6,5% do total de efetivos.
Em declarações ao jornal Público, o líder da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, diz que os números não são surpreendentes. As medidas tomadas nas escolas públicas, nos últimos anos, contribuíram para a situação, elucidou o líder. São exemplos o encerramento dos estabelecimentos do 1.º ciclo com menos de 25 alunos, a criação de agrupamentos de escolas e o aumento do número de alunos por turma.
As medidas de austeridade aplicadas na função pública, como os cortes nos vencimentos, o aumento da idade da reforma e o congelamento das progressões levaram muitos professores a saírem do sistema, explica ao Público Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
O período da troika foi o que se marcou pela maior perda de professores do Estado, mas também das escolas privadas. Ao todo, registaram-se 31.352 saídas, representando três quartos do total de docentes que deixaram de dar aulas na última década. Uma percentagem de 94% de docentes deixou de dar aulas em escolas do Estado, nesses três anos. Contudo, este foi o período onde as escolas privadas também perderam mais docentes: 13% do corpo docente sai entre os anos de 2011 e 2014.
A consequência da quebra demográfica que atinge o país há anos é também apontada como uma causa da redução do número de docentes e alunos inscritos nas escolas. Ao analisar o relatório da DGEEC, o número de alunos a frequentar os três ciclos do ensino básico e o ensino secundário baixou 6,2%, ou seja, 92.423 inscritos.
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