Esta sexta-feira há greve no setor da saúde que deverá abranger mais de 200 mil trabalhadores. Sindicatos garantem que é "a maior dos últimos anos".
Profissionais de saúde iniciaram à meia-noite desta sexta-feira um dia de greve, que não abrange médicos nem enfermeiros, mas que, nas contas dos sindicatos que a convocaram, deverá abranger cerca de 200 mil trabalhadores.
Convocada pelas estruturas da UGT (FESAP) e da CGTP-IN (Frente Comum), a greve deverá provocar problemas no funcionamento dos serviços, nas consultas, atendimento e diagnósticos, segundo as previsões do secretário-geral da FESAP.
“Neste momento, no que é possível avaliar, porque os outros serviços não abriram, ao nível dos hospitais como Aveiro, Coimbra, Santa Maria ou Maternidade Alfredo da Costa tudo indica que há mais gente a fazer greve, que na última que se realizou na saúde”, disse à Lusa o sindicalista, cerca das 00:45.
José Abraão explicou que a greve deve abranger cerca de 200 mil trabalhadores, garantindo que os serviços mínimos vão ser cumpridos.
“Esta greve vai ser a maior dos últimos anos, porque cobre um número enorme de serviços e trabalhadores, e porque as pessoas estão muito zangadas, revoltadas e prejudicadas e querem manifestar o seu protesto”, salientou.
O sindicalista salientou que os trabalhadores “estavam à espera” de que os sindicatos avançassem para esta forma de luta, de modo a “mostrar ao governo que existe necessidade de se sentar à mesa para negociar”
Entre as motivações da greve está a falta de acordo coletivo de trabalho para 40 mil profissionais de saúde com contratos individuais de trabalho, mas que não beneficiam do descongelamento das carreiras, nem têm horário semanal de 35 hora, sobretudo dos hospitais EPE (Entidades Públicas Empresariais).
“São necessárias soluções para os contratos individuais de trabalho, para a questão das 35 horas de trabalho semanal e também uma nova visão sobre aquilo que são os serviços de saúde, que não podem ficar reduzidos à preocupação do governo relativamente aos médicos e enfermeiros”, defendeu.
Em causa está, nomeadamente, a valorização das carreiras dos assistentes técnicos (administrativos) e assistentes operacionais (auxiliares).
“O texto do acordo coletivo de trabalho está praticamente negociado, só falta vontade política”, afirmou José Abraão, que disse já ter pedido a semana passada uma reunião ao ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, para discutir o tema.
O dirigente sindical considerou que é importante que o Governo “não reduza” os problemas laborais na saúde [apenas] “aos médicos e enfermeiros, que têm feito excelente trabalho”, mas que aprove melhorias para todos os profissionais, uma vez que todos são necessários ao funcionamento dos serviços.
Sobre os custos da melhoria salarial desses trabalhadores, o dirigente sindical disse que não compete à FESAP fazer as contas, mas acrescentou que esta estrutura sindical está “disponível para negociar, para acomodar no tempo” eventuais melhorias salariais negociadas.
O secretário-geral da FESAP acredita que ao longo do dia o impacto da greve vai aumentar, afetando instituídos ligados à saúde, Administrações Regionais de Saúde, unidades de saúde familiar e hospitais, em áreas como as consultas externas, urgências ou blocos operatórios.
“No próximo dia 29, na reunião que vamos ter com a secretário de estado da Administração Pública pode haver uma resposta no sentido da negociação. A insatisfação de todo o setor vai ser sentida de forma clara e o que pretendemos é abertura de um processo negocial”, disse.
Greve em Lisboa e no Porto com adesão acima dos 80%
Os primeiros dados referentes à greve dos trabalhadores da saúde nos hospitais do distrito de Lisboa dão uma adesão superior a 80% atingindo, no caso do Amadora-Sintra, os 100%, segundo a Federação, da CGTP.
Segundo dados da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), às 00:30, o Hospital Amadora-Sintra tinha uma adesão de 100%, o São Francisco Xavier (Lisboa) 95%, o Hospital de Santa Maria – Urgência Adultos, pediatria, ginecologia, obstetrícia (Lisboa) 90%, a Maternidade Alfredo da Costa (Lisboa) 80% e igual percentagem para o serviço de internamentos do Hospital de Santa Maria. O Hospital de São João, no Porto, registou 95%.
A funcionar só com os serviços mínimos, adianta a mesma nota, estão o Hospital Distrital de Santarém, o de Abrantes, de Tomar, Torres Novas e de Gaia (Porto).
Os dados provisórios indicam que no Hospital de São José (Lisboa) a adesão foi de 95%, na Estefânia (infantil-Lisboa) de 97%, no Beatriz-ângelo (Loures) de 100%, na Urgência do Distrital de Braga também 100% e no Distrital de Beja, os restantes serviços têm uma percentagem de 70%.
Os 28 Hospitais integrados ou não em Centros Hospitalares, do sector público administrativo e empresarial do Serviço Nacional da Saúde (SNS), da Região Centro, estão a funcionar em Serviços mínimos: Hospital de Aveiro; Salreu; Águeda; Anadia; Ovar; Santa Maria da Feira; S. João da Madeira; Oliveira de Azeméis; Hospitais da U.Coimbra; Pediátrico; Covões; Sobral Cid, Maternidade Daniel de Matos e Bissaya Barreto; IPO; Figueira da Foz; Cantanhede; Tocha”, refere a Federação.
Na mesma situação estão os hospitais da Guarda, de Seia, de Leiria, Pombal, Alcobaça, Caldas da Rainha, Peniche, Viseu, Tondela e Lamego.