Recurso ao lay-off simplificado e ajudas ao pagamento de salário não impediram saídas. Negócios sem apoios empregaram mais.
As empresas que devido à pandemia recorreram a lay-off, ou que tiveram custos com salários comparticipados pela Segurança Social no âmbito do apoio excecional à família, chegaram ao final do ano com menos 117 900 trabalhadores, 5% menos que um ano antes.
A maioria das perdas de postos de trabalho nestas empresas ocorreu entre abril e julho, meses em que corria a medida de lay-off simplificado e estavam proibidos despedimentos coletivos ou afastamentos por extinção de postos de trabalho, mas não havia qualquer impedimento à não renovação de contratos de trabalho, nas empresas apoiadas por esta medida.
A informação consta dos quadros sobre a evolução das remunerações em empresas que no último ano adotaram medidas de lay-off ou tiveram trabalhadores com apoio excecional à família devido ao fecho de escolas, produzidos pelo Instituto Nacional de Estatística a pedido do Dinheiro Vivo.
Em ambas as medidas, foram os contribuintes portugueses a suportar parte dos salários, pagos pela Segurança Social com recurso a transferências do Orçamento do Estado. No primeiro caso, com o objetivo de ajudar a manter postos de trabalho nos negócios mais fragilizados pelas restrições trazidas pela covid-19. No segundo, tratava-se de apoiar pais forçados a ficar em casa para acompanhar os menores.
Em informação divulgada na última quinta-feira, o INE apontava a uma redução do emprego em 4,8% nestas empresas, e os quadros facultados permitem agora contabilizar o número de postos de trabalho perdidos.
Maio com as maiores perdas
No trimestre terminado em dezembro, as empresas e entidades abrangidas pelas medidas de apoio contavam perto de 2,4 milhões de trabalhadores (2 360 600, nem todos sujeitos a lay-off ou com apoio à família). Eram menos 117 900 do que em período igual de 2019. Já face aos três meses terminados em fevereiro, último mês antes da chegada da pandemia ao país, o ano terminou com menos 102 200 empregos.
Os dados da evolução do emprego nestas empresas mostram que ao longo dos primeiros sete meses do ano, e mesmo nos meses antes da chegada da pandemia, houve redução do emprego, registando-se alguma recuperação nos meses de agosto, setembro e novembro. Em outubro e, sobretudo, dezembro, voltou a cair o número de trabalhadores.
Maio foi porém o mês mais penalizador, com a redução, em termos líquidos, de mais de 39 mil postos de trabalho.
Já no conjunto de empresas e outras entidades (a função pública entra nestas estatísticas) que não precisaram de qualquer apoio para pagamento de salários, o volume de emprego do final de 2020 ficou 1,9% acima do que se registava no termo do ano anterior, com mais 32 800 empregados para um total próximo de 1,8 milhões de trabalhadores.
Na evolução ao longo do ano, também estas empresas viram cair o nível de emprego em todos os meses de janeiro a julho, mas a partir daí assistiu-se a uma recuperação que permitiu chegar ao final de 2020 com mais trabalhadores do que um ano antes. O mês mais forte foi o de dezembro, com um ganho de 26 mil trabalhadores.
Desemprego empurra salários
Olhando para as remunerações, nas empresas com salários apoiados pelo Estado no último ano, observa-se o crescimento da média salarial em 3,5%, num efeito de ordem estatística que reflete largamente a eliminação dos postos de trabalho mais mal pagos. O salário-base bruto nestes negócios estava em dezembro em 898 euros.
Nas restantes atividades sem recurso às medidas do Estado, e onde o nível de emprego cresceu, o salário-base médio ficou 30% acima, nos 1166 euros, e não cresceu tanto. O avanço face a dezembro de 2019 foi de apenas 2,5%.
Já quando se calcula o volume total de remunerações, observa-se nestas empresas uma quebra de 1,4% no total de salários pagos (remuneração-base, sem contar subsídios e complementos). Foram menos 29 milhões de euros.
Já nas empresas sem as medidas de apoio, o volume de salários-base pagos crescia em dezembro 4,3%, em praticamente 89 milhões de euros, nos cálculos do DV a partir dos dados do INE.
Fonte Dinheiro Vivo