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A formiga no carreiro

Investigador italiano Marco Cangiano está surpreendido com a imagem negativa dos serviços públicos nacionais

O economista italiano Marco Cangiano, que está de visita a Portugal, ficou «surpreendido» com a imagem negativa dos serviços públicos portugueses. Sobretudo porque, diz, a administração pública «é a saída para a crise».

«Estou um pouco surpreendido com a visão negativa dos serviços públicos [em Portugal]. Os serviços públicos estão a ser decapitados. Não são estes os serviços públicos que tenho visto e com que tenho trabalhado. Os serviços públicos são a saída do problema», afirmou Cangiano numa conferência sobre a reforma do setor público, em Lisboa, citado pela Lusa.

O antigo diretor do Departamento de Assuntos Orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), que está atualmente de licença sabática, e que é também investigador da Universidade de Nova Iorque, criticou a tendência de «importar» modelos de reformas por «impedir uma análise mais profunda».

Embora admita que «o contexto importa», e que por isso, cada caso é um caso, sublinha que isso não deve servir de desculpa para não fazer nada.

Administração pública precisa de gente qualificada que não faça mais nada

Falando também sobre a Administração Pública, a economista Teodora Cardoso, que preside ao Conselho das Finanças Públicas, diz que o setor «tem uma enorme carga de trabalho» e que os sacrifícios pedidos exigem «gente qualificada que não faça mais nada».

«As pessoas que, neste momento, têm responsabilidade na administração pública têm uma enorme carga de trabalho e, muitas vezes, isso não lhes é reconhecido», disse. No entanto, acrescentou a ex-administradora do Banco de Portugal, «todos estes esforços de reforma que são necessários exigem gente qualificada e gente que não faça mais nada e esse é outro problema na administração pública».

«Como [o número de] pessoas se têm vindo a reduzir, sobretudo ao nível das mais qualificadas, as pessoas andam sempre a saltar de uma tarefa urgente para outra tarefa urgente e não têm tempo para se dedicar como é preciso», argumentou Teodora Cardoso.

A economista disse que prevalece «a sensação» de que «muitos lugares na administração pública deixaram provavelmente de fazer sentido» e defendeu a necessidade de «obter formas de verdadeira mobilidade».

«Numa primeira fase, [isto] até pode ser visto como um sacrifício, mas, no fundo, é preferível as pessoas fazerem esse sacrifício, mas terem uma carreira motivadora do que simplesmente continuarem naquele lugar até à reforma porque é um direito adquirido», argumentou Teodora Cardoso.

No que se refere à esfera política, a presidente do CFP entende que é necessário «um acordo e um consenso entre os principais partidos» para que a reforma da administração pública seja bem-sucedida.

«Cada Governo começa de princípio e às vezes, mesmo dentro do mesmo Governo, cada ministro inventa a roda. Esse é um mecanismo destruidor», disse ainda durante a conferência.

A conferência «Para uma reforma abrangente da Organização e Gestão do Setor Público», que decorre até quarta-feira em Lisboa, é organizada pelo Banco de Portugal, pelo Conselho das Finanças Públicas e pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Na mesma conferência, Camppos e Cunha teceu duras críticas ao recente relatório do FMI sobre o corte de despesa no Estado.


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